Principais Artefatos na Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico e Possíveis Soluções

 Meu Trabalho de Conclusão de Curso:

 Especialização em Tomografia Computadorizada com Ênfase em Protocolos Aplicáveis ao Radiodiagnóstico


PRINCIPAIS ARTEFATOS NA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE FEIXE CÔNICO E POSSÍVEIS SOLUÇÕES

MAIN ARTIFACTS IN CONE BEAM COMPUTED TOMOGRAPHY AND POSSIBLE SOLUTIONS


Ítalo Roger Melo Sales[1]
Daniel Almeida Ferreira Barbosa[2]
Isabelle Cerqueira Sousa[3]

 RESUMO

O objetivo deste estudo é apresentar de maneira sintetizada os principais artefatos da Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico bem como os avanços e as novas técnicas para solucioná-los ou amenizá-los. Para tanto, foi realizada uma revisão de literatura de perfil integrativo com finalidade básica estratégica, A pesquisa possui natureza descritiva com abordagem qualitativa. Utilizando as palavras-chave nas bases de dados Google Acadêmico e Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde. Não houve restrição de língua ou ano de publicação dos estudos. Portanto,  foram selecionados 19 artigos científicos que contemplavam o tema e os critérios de elegibilidade. Embora os artefatos na TCFC sejam uma problemática ainda não solucionada completamente, vários métodos novos estão sendo avaliados e discutidos. Os avanços são significativos com a utilização de reconstruções de método iterativo e algoritmos que os reduzem de forma expressiva, aumentando a qualidade da imagem.

 

Palavras-chave: Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico. Artefatos. Endurecimento do Feixe.  Ruído. Dispersão.

 

ABSTRACT

The aim of this study is to synthetically present the main artifacts of Cone-Beam Computed Tomography as well as the advances and new techniques to solve or mitigate them. To this end, a literature review was performed through the Google Scholar databases and the Regional Portal of the Virtual Health Library, using the keywords: cone beam computed tomography, artifacts, noise and beam hardening. There was no language restriction or year of publication of the studies. Therefore, 19 scientific articles that covered the theme and the eligibility criteria were selected. Although CBCT artifacts are a problem not yet completely solved, several new methods are being evaluated and discussed. Advances are significant with the use of iterative method reconstructions and algorithms that significantly reduce them, increasing image quality.

 

Keywords: Cone-Beam Computed Tomography. Artifacts. Beam Hardening. Noise. Scatter.



[1] Graduado em Tecnologia da Radiologia, Pós-graduando em Tomografia Computadorizada (UNICHRISTUS).
[2] Mestre em Odontologia/Radiologia, Doutorando em Odontologia/Radiologia, Orientador Acadêmico (UNICHRISTUS).
[3] Mestre em Educação Especial, Doutoranda em Saúde Coletiva, Orientadora de Metodologia (UNICHRISTUS).


1 INTRODUÇÃO 

A busca incessante pela melhora da qualidade da imagem tomográfica tem despertado o interesse em solucionar os obstáculos deste método desde o seu início. Os artefatos muitas vezes são a principal causa de imagens de baixa qualidade e, consequentemente, inapropriadas para o diagnóstico. Entre os diversos tipos de artefatos, existem aqueles que são frequentes na rotina dos estudantes e profissionais da radiologia. Compreender e estudar suas origens é necessário para minimizá-los ou até mesmo extingui-los.

Persiste também uma constante tentativa para minimizar as doses de radiação em um nível que não prejudique a qualidade da imagem para o diagnóstico, porém o maior problema é que alguns desses artefatos se mostram mais pronunciados quando é utilizado uma baixa dose de radiação, como no caso do ruído ocasionado pela falta de fótons e do artefato de endurecimento do feixe, este último quando existe a presença de objeto de alta densidade.

A Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico (TCFC) bem como a Tomografia Computadorizada Multidetectores (TCMD) utilizam um complexo sistema de formação das imagens baseado em projeções de feixes de raios X em 360º ao redor do paciente e, posteriormente, o resultado destas interações é enviado para um computador que as processa por meio de algoritmos de reconstrução até a demonstração final da imagem na tela do computador. Muitas vezes no meio desse processo existem diversos fatores que podem distanciar a imagem do que seria próxima do real objeto de estudo, causando os indesejados artefatos de imagem.

Ambos os métodos de imagem apresentam artefatos semelhantes, pois o processo de formação das reconstruções é parecido, sendo através da retroprojeção filtrada, que é considerado um método bastante eficiente e rápido. Entretanto, este método  apresenta desvantagens, como o favorecimento da formação de artefatos, por isso alternativas visando a redução de alguns tipos de artefatos que são gerados pela deficiência na fase de reconstrução da imagem em determinadas situações têm sido desenvolvidas.

Muitos pesquisadores têm encarado o desafio de buscar soluções mais adequadas para reduzir ou sanar os artefatos na imagem, experimentando complexas equações matemáticas como também novos algoritmos associados a outros métodos de reconstrução mais apropriados para cada situação e tipo específico de artefato. Diversos trabalhos foram realizados baseados ou não em testes anteriores para experimentar quais seriam os procedimentos mais efetivos e satisfatórios para tal finalidade, contudo é notório uma escassez de pesquisas que reúna os tipos de artefatos predominantes e que além disso evidencie descobertas relevantes sobre este tema em um único artigo.

O presente estudo pretende, através de uma revisão da literatura, apresentar de forma sintetizada os principais artefatos encontrados nas imagens de TCFC assim como mostrar as possíveis soluções, avanços e novas técnicas segundo os autores de renome na área que serão mencionados.

 

2 MÉTODOS 

A pesquisa é de natureza descritiva com abordagem qualitativa, quanto aos procedimentos foi realizado uma revisão de literatura de perfil integrativo com finalidade básica estratégica. As bases de dados utilizadas foram o Google Acadêmico e o Portal Regional da Biblioteca Virtual em Saúde. Utilizou-se como palavras-chave: “TC de Feixe Cônico”, “Artefatos”, “Endurecimento do Feixe“, “Ruído”, “Dispersão”, “Efeito de Volume Parcial” de maneira isolada e correlata nos idiomas português e inglês, foram encontrados mais de 400.000 resultados, dentre esses foram selecionados apenas 19 artigos publicados em jornais, sendo sua maioria de autores já mencionados em pesquisas anteriores que são referência no assunto. O levantamento bibliográfico foi feito no período de julho a setembro de 2019.

 

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

 

3.1 Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico 

A técnica da Tomografia Computadorizada divide a estrutura em uma série de cortes, escaneando o paciente por feixes de raios X que por sua vez os que conseguem atravessar o paciente atingem os detectores de cintilação e finalmente os dados obtidos são processados por um computador. A sensibilidade da TC em distinguir tecidos moles supera o método da radiografia convencional, pois anteriormente tais tecidos só poderiam ser diferenciados uns dos outros se tivessem uma densidade bastante diferente. Isso é possível porque os valores absolutos do procedimento do coeficiente de absorção dos tecidos são obtidos e permitem que os tecidos de densidade semelhante apareçam distintos na imagem (HOUNSFIELD, 1973).

O primeiro aparelho de TCFC dedicado a imagem bucomaxilofacial utilizou uma técnica que permitia, em princípio, aquisições de dados muito mais rápidas quando comparadas à TC tradicional utilizando um feixe de radiação em formato de cone, além de oferecer baixo custo e dose de radiação menor (MOZZO et al., 1998).

A TCFC produz imagens com espessuras de cortes milimétricas e resolução espacial isotrópica tornando-se ideal para o estudo do complexo dentomaxilofacial. A TCFC pode fornecer aos profissionais cirurgiões dentistas uma solução completa para a realização de procedimentos diagnósticos e auxiliar em cirurgias (SUKOVIC et al., 2003).

Muito semelhante à TCMD as reconstruções de volume na TCFC são baseadas em retroprojeção, intensidades dos fótons de raios X obtidas a partir de projeções localizadas em 360º ao redor do objeto enquanto uma matriz composta por voxels e baseada no coeficiente de atenuação dessas projeções é formada. Esses voxels são preenchidos com um valor de intensidade de cinza ou atenuação da estrutura. Como consequência, certos artefatos prejudicam ambos os métodos (SCHULZE et al., 2010).


3.2 Artefatos

“Um artefato é qualquer distorção ou erro na imagem que não esteja relacionado ao objeto em estudo.” (SCARFE; FARMAN, 2008, tradução nossa).

"Na tomografia computadorizada, o termo artefato é empregado a qualquer diferença sistemática entre os números de TC na imagem e os verdadeiros coeficientes de atenuação da estrutura." (BARRETT; KEAT, 2004, tradução nossa).

Imagens tomográficas são caracteristicamente propensas a produzirem mais artefatos quando comparadas à radiografias convencionais, porque a imagem é reconstruída a partir de milhões de medições das intensidades dos fótons que atingem os detectores. A técnica de reconstrução supõe que todas estas medições são compatíveis com o real, portanto, qualquer erro nesse processo geralmente se reflete como um erro na imagem reconstruída. Artefatos podem danificar seriamente a qualidade da imagem tomográfica, às vezes ao ponto de torná-la ineficiente para o diagnóstico (BARRETT; KEAT, 2004).


3.2.1 Artefato de endurecimento do feixe 

O artefato de endurecimento do feixe geralmente é causado por materiais de alta densidade como: restaurações/preenchimentos e implantes metálicos. Devido à absorção dos fótons de baixa energia ser maior do que os de alta energia, quando na presença de materiais de alta densidade, são os fótons de alta energia que em sua maioria atravessam o material e atingem o detector, causando o chamado endurecimento do feixe, e assim é transmitido uma informação errônea das proximidades do objeto na reconstrução da imagem, pela ausência de fótons de média e baixa intensidade, dessa forma o valor da escala de cinza não corresponde com o real e formam faixas escuras na direção do feixe de raios X. Observe na figura 1 as regiões hipodensas (mais escuras) nas margens do implante. Elas são causadas pela retroprojeção de uma intensidade medida, porém não correspondente com a absorção real, porque os raios X de alta energia ultrapassaram em maior quantidade o implante relativamente denso (SCHULZE et al., 2010).

 Figura 1 - Artefatos típicos de endurecimento de feixe causados por implantes dentários de titânio.

Fonte: (SCHULZE et al., 2010)

 Na imagem de TCFC o feixe é heterocromático e tem uma energia média de quilovolt mais baixa em comparação com a TCMD, por esse motivo esse artefato se torna frequente. Na prática, para minimizar esse artefato é aconselhável reduzir o campo de visão para evitar regiões de varredura suscetíveis ao endurecimento do feixe, o que pode ser conseguido por colimação, modificação de posicionamento do paciente, ou separação das arcadas dentárias, também é importante remover objetos metálicos, como joias, antes do exame.

O endurecimento do feixe resulta em dois tipos de artefatos: artefato de escavação (cupping artifacts), que apresenta distorção de estruturas metálicas na imagem devido ao diferencial de absorção assim como listras e faixas escuras (dark bands e dark streaks) (SCARFE; FARMAN, 2008).

  

Apesar do método de retroprojeção filtrada ser um método explícito além de uma maneira computacionalmente eficiente de reconstruir a imagem tomográfica a partir dos seus dados de projeção, ele não é ideal quando o objeto escaneado contém peças de metal. Uma variedade de algoritmos MAR (Metal Artefact Reduction) de processamento de imagem foram desenvolvidos para reduzir artefatos de metal em imagens de TC pós-aquisição. Eles podem ser classificados em quatro grupos: (1) método de reconstrução iterativa; (2) método de correção da projeção; (3) métodos de correção da reconstrução; e (4) a combinação dos métodos 1 e 3.

Consequentemente, apesar de tais métodos reduzirem significativamente os artefatos de metal procedente de um único objeto metálico, são muito menos eficazes quando vários objetos de metal estão envolvidos. Dos algoritmos de redução do artefato de metal que foram publicados, apenas um pequeno número é avaliados como computacionalmente eficientes para artefatos de metal induzidos por múltiplas peças metálicas. Estes incluem os métodos de correção de projeção de Kalender et al,Takahashi et al e o método híbrido de Watzke e Kalender (TOHNAK et al., 2011).

Draenert et al (2007) conduziram um estudo sobre o artefato de endurecimento do feixe, comparando entre TCFC e TCMD, no qual utilizou-se um phantom em formato de crânio (SawBone-based skull model) com implante metálico (Straumann ITI 4.1 mm), o aparelho empregado na comparação foi o NewTom 9000 de feixe cônico e o Philips MX 8000 multidetectores. As imagens de TCMD mostraram uma correta visualização do implante dentário em reconstruções axiais, coronais e tridimensionais. A qualidade da TCMD foi classificada como melhor, em relação à TCFC, pois apresentou um número menor de imagens afetadas pelo artefato.

Kalender et al (1987) na tentativa de reduzir o artefato de endurecimento do feixe causado por objetos metálicos, desenvolveram um software utilizando o método de interpolação linear dos dados perdidos. O algoritmo consiste nas seguintes etapas: (a) reconstrução da imagem tomográfica a partir dos dados originais com artefato, (h) delineamento aproximado do(s) implante(s) metálico(s) pelo operador com uma caneta luminosa, (c) determinação automática dos limites exato do implante dentro dos dados de projeção, (d) interpolação linear dos dados perdidos, (e) adição de ruído aos dados interpolados (opcional) e (J) reconstrução de uma imagem reduzida de artefato a partir do novo conjunto de projeção.

O método foi mais bem-sucedido com objetos tendo geometrias simples, como um phantom de água com formato circular, entretanto, foi insatisfatório em regiões com muitas estruturas, como o esqueleto facial, que apresenta muitas transições entre alta e baixa atenuação.

Figura 2 - Tomografia computadorizada de mandíbula com obturação dentária

(a)(b)

(a) imagem original; (b) com redução de artefato usando o algoritmo MAR proposto. Fonte: (Kalender et al.,1987)

 

Vários métodos para redução de artefatos metálicos (MAR) na TCFC foram testados em estudos anteriores. Um deles avaliou pacientes com dispositivos metálicos em seus corpos durante a aquisição, o uso de um algoritmo MAR de pré-processamento resultou em imagens de melhor qualidade. Em outro, o fator miliampère por segundo (mAs) ou o potencial do tubo de pico (Kv) foram aumentados, o que levou a imagens de maior qualidade porque o aumento da energia do feixe fez com que o mesmo não fosse absorvido totalmente pelas estruturas metálicas, o que também inevitavelmente resulta em uma dose de radiação maior para o paciente (BECHARA et al., 2012;  LEE et al et al., 2007).

O efeito do algoritmo MAR de reconstrução iterativa é superior ao do método de interpolação, a desvantagem quando comparado com a retroprojeção filtrada é que uma maior quantidade de cálculos e mais tempo de processamento são necessários (KIM et al., 2015).

Radiologistas devem também estar cientes dos artefatos que são produzidos pela aplicação do algoritmo MAR baseado em projeção. Para reduzir o risco de interpretações errôneas imagens obtidas com e sem aplicação do algoritmo MAR devem ser sempre analisadas em conjunto (KATSURA et al., 2018).

Safi et al. (2019) experimentaram uma nova técnica para minimizar os artefatos de dentes anteriores com pinos e/ou coroas de metal. Nesta nova técnica, o paciente que foi encaminhado para realizar o exame de TCFC por motivo de cirurgia de implante, foi instruído a inflar suas bochechas/lábios durante a aquisição tomográfica.

Após aplicar a técnica os artefatos metálicos ao redor dos dentes anteriores restaurados diminuíram significativamente, no entanto, a técnica não pode ser aplicada para dentes posteriores devido às estruturas ósseas existentes.

 

 Figura 3 - Corte transversal e reconstrução tridimensional axial com pinos metálicos nos dentes anteriores

a)



b)

(a)TCFC sem aplicação da técnica; (b) TCFC do mesmo paciente, com técnica de inflar as bochechas. Fonte: (Safi et al., 2019)

  

3.2.2 Efeito de volume parcial

 

Ocorre quando a resolução de voxel selecionada da varredura é maior do que a resolução espacial ou de contraste do objeto. Neste caso, o pixel não é a representação do tecido ou limite, tornando-se uma média ponderada dos diferentes valores de TC, pois o voxel mostra apenas um valor de cinza por vez.

Por exemplo, se um voxel representa uma área de 75% de tecido mole e 25% de osso cortical, o voxel aparecerá mais radiolucente que radiopaco. Isso ocorre com mais freqüência ao longo da margem de um objeto ou no limite de duas substâncias de diferentes densidades. Esse efeito pode dificultar a diferenciação exata entre as densidades. A maneira mais eficaz de diminuir a influência do efeito de volume parcial é diminuir o tamanho do voxel. No entanto, há uma desvantagem ao usar tamanhos menores de voxel, já que eles exigem mais radiação e são mais propensos ao ruído (SCARFE; FARMAN, 2008; MOLEN, 2010).

  

3.2.3 Movimento do paciente

 

 O movimento do paciente pode causar um registro incorreto dos dados, que aparece como falta de nitidez na imagem reconstruída. Para reduzir este tipo de artefato pode ser utilizado uma contenção para a cabeça e quando possível, um tempo de varredura mais curto (SCARFE; FARMAN, 2008). 

Figura 4 - TCFC de uma criança de 7 anos apresentando artefato de movimento.

Corte axial ao nível das coroas dentárias. Fonte: Arquivo pessoal

 

 3.2.4 Ruído Causado Pela Falta de Fótons 

Estruturas que possuem uma grande atenuação fazem com que o número de fótons que precisam chegar aos detectores seja insuficiente. O resultado é que imagens muito ruidosas são produzidas. Se a corrente do tubo for aumentada durante a aquisição o problema da falta de fótons será resolvido, contudo o paciente receberá uma dose desnecessária quando o feixe estiver atingindo partes menos atenuantes (BARRETT; KEAT, 2004).

 Aparelhos de TCFC, por motivos de redução de dose, são operados com baixa miliamperagem em relação aos aparelhos de TCMD. Assim, a relação sinal/ruído é muito menor do que na TCMD e por esse motivo um ruído alto é esperado em todas as imagens de TCFC (SCHULZE et al., 2011).

 Na tomografia existe um compromisso entre a qualidade da imagem e a dose de radiação ionizante. O problema é que diminuindo as doses de radiação, a quantidade de ruído nas imagens é aumentada. Isto acontece porque os detectores de tomografia recebem uma menor quantidade de fótons, o que diminui a relação sinal/ruído (SNR). Como conseqüência o ruído pode ocultar detalhes anatômicos e diminui a detectabilidade de lesões de baixo contraste. Deste modo deve-se preservar um equilíbrio adequado (GIRALDO; FLETCHER; MCCOLLOUGH, 2010).

Algoritmos de reconstrução de imagem iterativos têm o potencial de produzir imagens com pouco ruído. (CHLEWICKI; HERMANSEN; HANSEN, 2004).

Wang et al (2006) com o propósito de produzir imagens com baixa dose de radiação e ao mesmo tempo minimizar o ruído oriundo desse processo compararam três métodos diferentes baseados em Mínimos Quadrados Ponderados Penalizados (MQPP) (penalized weighted least-squares - PWLS) e concluiu que o método que teve um melhor resultado foi o que utilizou a transformada de Karhunen-Loève (KL) associado ao método de reconstrução analítica de retroprojeção filtrada. A figura 5 mostra o resultado dessa comparação utilizando um fantoma que simulou a região dos ombros.

 

 Figura 5 - Tomografia de fantoma do ombro com protocolo de 10 mA.

(a) Imagem reconstruída por retroprojeção filtrada (RPF) usando o filtro Hanning com ponto de corte a 80% da frequência Nyquist; (b) Imagem com reconstrução iterativa PRWLS + SOR; (c) Imagem reconstruída com RPF padrão a partir do sinograma iterativo suavizado GS-PRWLS; (d) Imagem reconstruída com RPF padrão a partir do sinograma, filtrado por KL-PWLS analítico. Fonte: (Wang et al.,2006)

 

3.2.5 Ruído Causado Pela Dispersão

  A dispersão é causada pelos fótons que são difratados de seu caminho original após a interação com a matéria. Essa parcela adicional de raios X espalhados resulta em um aumento da mensuração dessa intensidade, uma vez que as intensidades dispersas simplesmente aumentam a intensidade primária, produzindo então intensidades superestimadas em cada voxel. Assim, o efeito de degradação da imagem pela radiação dispersa afetará mais as máquinas de TCFC do que os equipamentos de TC com feixe em forma de leque altamente colimados (SCHULZE et al., 2011).

 A projeção do feixe cônico resulta na irradiação de um grande volume e após a interação da radiação com a matéria boa parte dos fótons causam efeito Compton e dispersam a radiação, que por sua vez atingem o detector fazendo com que o voxel não reflita a atenuação real do objeto. Parte dessa atenuação não linear é registrada e contribui para a degradação da imagem (SCARFE; FARMAN, 2008).

Muitos métodos de correção da dispersão foram propostos na literatura, e a pesquisa nesse campo ainda é muito ativa. Existem duas técnicas principais para evitar a dispersão.

A primeira realiza a supressão de dispersão durante a aquisição de dados de projeção, com base na diferença entre os ângulos de incidência dos fótons primários e a dispersão dos fótons. Exemplos típicos incluem a grade anti-difusora e o método de gap aéreo.

A segunda apresenta uma capacidade mais aprimorada de correção da dispersão, que é corrigida usando técnicas de pós-processamento nas imagens afetadas, contudo o nível de ruído após essa correção é muito alto e diminui a relação contraste/ruído (RCR) (contrast-to-noise ratio - CNR) causando degradamento da imagem (ZHU; WANG; XING, 2009).

 Zhu et al (2009) propuseram um método de supressão de ruído da dispersão que é utilizado nas projeções após a correção da dispersão. Este algoritmo é baseado no uso de Mínimos Quadrados Ponderados Penalizados (MQPP) (penalized weighted least-squares - PWLS) para reduzir o ruído nas imagens reconstruídas, aumentando a relação contraste/ruído (RCR) e trazendo uma melhoria significativa na qualidade da imagem, como mostra na figura 6.

 Figura 6 - Imagens reconstruídas do fantoma Catphan © 600 anel de corpo oval.

(a)  Sem correção da dispersão e sem supressão de ruído; (b) Com correção da dispersão, porém sem supressão de ruído; (c) Com correção da dispersão usando o algoritmo de supressão de ruído proposto; Fonte: (Zhu et al.,2009)

 

4 CONCLUSÃO

Embora os artefatos na TCFC sejam uma problemática ainda não solucionada completamente, vários métodos novos estão sendo avaliados e discutidos. Os avanços são significativos com a utilização de reconstruções de método iterativo e algoritmos que os reduzem de forma expressiva, amplificando a qualidade da imagem.

Alguns anos atrás uma das dificuldades era a limitação dos computadores em processar extensos algoritmos de maneira rápida, por exemplo, nas reconstruções iterativas, o que inviabilizava a aplicação desses métodos no mercado.

Atualmente com computadores de configurações mais avançadas, já existem softwares disponíveis para serem usados no pós-processamento, empregando algoritmos de redução de artefato de metal (MAR) e a aplicação de filtros que reduzem o efeito da dispersão e o ruído na imagem. Visto que alguns desses métodos acabam gerando alterações indesejadas e consequentemente diminuem a segurança nos resultados, permanece o desafio de tornar esses novos processos mais confiáveis para o diagnóstico.

  

REFERÊNCIAS 

BARRETT, Julia F.; KEAT, Nicholas. Artifacts in CT: Recognition and Avoidance. Radiographics. [s.l.], p. 1679-1691. nov. 2004. RSNA. Disponível em: <https://pubs.rsna.org/doi/full/10.1148/rg.246045065>. Acesso em: 08 jul. 2019.

 

CHLEWICKI, W; HERMANSEN, F; HANSEN, S B. Noise reduction and convergence of Bayesian algorithms with blobs based on the Huber function and median root prior. Physics In Medicine And Biology. [s.l.], p. 4717-4730. 25 set. 2004. Disponível em: <https://iopscience.iop.org/article/10.1088/0031-9155/49/20/004/pdf>. Acesso em: 27 ago. 2019.

 

DRAENERT, Florian Guy et al. Beam hardening artefacts occur in dental implant scans with the NewTom® cone beam CT but not with the dental 4-row multidetector CT. Dentomaxillofacial Radiology. [s.l.], p. 198-203. maio 2007. Disponível em: <https://www.birpublications.org/doi/pdf/10.1259/dmfr/32579161>. Acesso em: 07 ago. 2019.

 

GIRALDO, Juan Carlos Ramírez; FLETCHER, Joel J; MCCOLLOUGH, Cynthia H. Reducción del ruido en imágenes de tomografía computarizada usando un filtro bilateral anisotrópico. Revista Ingeniería Biomédica, Antioquia, v. 4, n. 7, p.55-62, jun. 2010.Disponível em: <https://repository.eia.edu.co/bitstream/11190/486/1/RBI00075.pdf>. Acesso em: 27 ago. 2019.

 

HOUNSFIELD, Godfrey Newbold et al. Computerized transverse axial scanning (tomography): Part 1. Description of system. The British Journal Of Radiology. Hayes, p. 1016-1022. dez. 1973. Disponível em: <https://www.birpublications.org/doi/pdf/10.1259/0007-1285-46-552-1016>. Acesso em: 04 jul. 2019.

 

KALENDER, Willi Alfred et al. Reduction of CT artifacts caused by metallic implants. Radiology Oak Brook, p. 576-577. ago. 1987. Disponível em: <https://pubs.rsna.org/doi/abs/10.1148/radiology.164.2.3602406>. Acesso em: 08 ago. 2019.

 

KATSURA, Masaki et al. Current and Novel Techniques for Metal Artifact Reduction at CT: Practical Guide for Radiologists. Radiographics. [s.l.], p. 450-461. mar. 2018. Disponível em: <https://pubs.rsna.org/doi/pdf/10.1148/rg.2018170102>. Acesso em: 19 ago. 2019.

 

KIM, Juhye et al. Development of a new metal artifact reduction algorithm by using an edge preserving method for CBCT imaging. Journal Of The Korean Physical Society. Seoul, p. 180-188. jul. 2015. Disponível em: <https://link.springer.com/article/10.3938/jkps.67.180>. Acesso em: 19 ago. 2019.

 

LEE, Mi-jung et al. Overcoming Artifacts from Metallic Orthopedic Implants at High-Field-Strength MR Imaging and Multi-detector CT. Radiographics. [s.l.], p. 791-803. maio 2007. Disponível em: <https://pubs.rsna.org/doi/full/10.1148/rg.273065087>. Acesso em: 19 ago. 2019.

 

MOLEN, Aaron Dean et al. Considerations in the use of cone-beam computed tomography for buccal bone measurements. American Journal Of Orthodontics And Dentofacial Orthopedics. [s.l.], p. 130-135. abr. 2010. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0889540610000326>. Acesso em: 12 ago. 2019.

 

MOZZO, Pierluigi et al. A new volumetric CT machine for dental imaging based on the cone-beam technique: preliminary results. European Radiology. [s.l.], p. 1558-1564. 23 nov. 1998. Disponível em: <https://link.springer.com/article/10.1007/s003300050586>. Acesso em: 06 jul. 2019.

 

SAFI, Yaser et al. A Novel Technique for Minimizing the Metal Artifacts on Anterior Teeth in Cone-Beam Computed Tomography. Iranian Endodontic Journal. [s.l.], p. 79-83. 20 jan. 2019. Disponível em: <http://journals.sbmu.ac.ir/iej/article/view/21636>. Acesso em: 27 set. 2019.

 

SCARFE, William C. et al. What is Cone-Beam CT and How Does it Work? Dental Clinics Of North America. [s.l.], p. 707-730. out. 2008. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S001185320800044X>. Acesso em: 03 jul. 2019.

 

SCHULZE, Ralf Kurt Willy et al. On cone-beam computed tomography artifacts induced by titanium implants. Clinical Oral Implants Research. [s.l.], p. 100-107. jan. 2010. Disponível em: <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/j.1600-0501.2009.01817.x>. Acesso em: 06 ago. 2019.

 

SCHULZE, Ralf Kurt Willy et al. Artefacts in CBCT: a review. Dentomaxillofacial Radiology. [s.l.], p. 265-273. jul. 2011. Disponível em: <https://www.birpublications.org/doi/pdf/10.1259/dmfr/30642039>. Acesso em: 08 jul. 2019.

 

SUKOVIC, P et al. Cone beam computed tomography in craniofacial imaging. Orthodontics And Craniofacial Research. [s.l.], p. 31-36. ago. 2003. Disponível em: <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1034/j.1600-0544.2003.259.x>. Acesso em: 06 ago. 2019.

 

TOHNAK, S et al. Dental CT metal artefact reduction based on sequential substitution. Dentomaxillofacial Radiology. [s.l.], p. 184-190. mar. 2011. Disponível em: <https://www.birpublications.org/doi/pdf/10.1259/dmfr/25260548>. Acesso em: 08 ago. 2019.

 

WANG, Jing; LI, Tianfang; LU, Hongbing. Penalized weighted least-squares approach to sinogram noise reduction and image reconstruction for low-dose X-ray computed tomography. Ieee Transactions On Medical Imaging. [s.l.], p. 1272-1283. out. 2006. Disponível em: <https://ieeexplore.ieee.org/abstract/document/1704886>. Acesso em: 05 set. 2019.

 

ZHU, Lei; WANG, Jing; XING, Lei. Noise suppression in scatter correction for cone-beam CT. Medical Physics. [s.l.], p. 741-752. 10 fev. 2009. Disponível em: <https://aapm.onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1118/1.3063001>. Acesso em: 04 set. 2019.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Formação das Imagens na Radiologia

Qualidade da Imagem Radiográfica

Radiologia - Aplicativo Simulador de Técnicas Radiográficas